terça-feira, 31 de maio de 2016

Os Anarquistas (Les Anarchistes) (2015)

Ficha técnica
Gênero: Drama
Duração: 1h41min
França

Direção: Elie Wajeman
Roteiro: Elie Wajeman e Gaëlle Macé
Elenco principal: Tahar Rahim, Adèle Exarchopoulos e Swan Arlaud

Sinopse: um policial se infiltra em um grupo anarquista para delatar seus planos e ações.

Em uma Paris do final do Século XIX, tomada pela industrialização, nota-se uma articulação política e social intensa. A era das revoluções estava em seu ápice, e as ideias borbulhavam em todo canto. Paris passara por uma "experiência" curta com o socialismo, a comuna parisiense, a qual logo fora rechaçada: fato citado recorrente durante o longa em diferentes perspectivas.

Os Anarquistas traz um drama revestido de suspense, pelo que parece, preferência do diretor Elie Wajeman, que leva o gênero às telas também em Alyah (2012). Aqui, talvez, vemos a raiz das pequenas problemáticas que se seguem.

Estrelado por Tahar Rahim (O Passado) e Adèle Exarchopoulos (Azul É a Cor Mais Quente), o longa se passa na Cidade das Luzes em 1899. Tahar é Jean, um policial que deve se infiltrar num grupo anarquista a fim de relatar suas ações e planos à seus superiores. Com algumas atitudes bravias e citando Bakunin, Jean logo garante a confiança do grupo. E então conhece Judith (vivida por Exarchopoulos) com quem constrói uma relação amorosa.

Aqui, o espectador já pode se questionar sobre os caminhos do longa; tratar-se-ia de um romance de época, do drama vivido pelo protagonista ou das ações políticas deste grupo? Em suma, não se fala muito em anarquismo, o tema é apenas desenhado em algumas ações diretas e em diálogos corriqueiros dentro deste grupo.

No que se refere à forma, o filme é impecável: figurino, atuações, fotografia, som e demais aspectos são entregues com esmero ao público. No entanto, tais enfoques não tiram o peso de um título tão categórico. Levando em consideração essas ponderações, há de se entender Os Anarquistas mais como um romance de época, envolto por uma situação social com todos os pontos comoventes de uma traição do que um drama histórico-político.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Hush: A Morte Ouve (Hush) (2016)


Ficha técnica
Gênero: Suspense/Terror
Duração: 1h21min
EUA

Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan e Kate Siegel
Elenco principal: John Gallagher Jr.Kate SiegelMichael Trucco.

Sinopse: Uma escritora surda tem que lutar por sua vida quando se vê aterrorizada por um psicopata.


Hush é uma produção independente que teve estreia no festival texano South by Southeast (SXSW) e posteriormente foi comprado pela onipresente Netflix. No site, estreou no dia 8 de abril deste ano e gerou certa repercussão entre a crítica especializada.



O longa é dirigido por Mark Flanagan, que dirigiu recentemente outros filmes interessantes do Terror, como Oculus (2013) e roteirizado por Flanagan e Kate Siegel, a atriz que interpreta a protagonista Maddie em Hush.



Na trama, Maddie é uma escritora, autora de best-seller que, aos 13 anos, em decorrência de uma doença, perdeu totalmente sua audição. Ela se retira para uma casa de campo, afastada do caos urbano, para poder se concentrar melhor em seu novo livro. Ao início, há uma boa percepção, para quem é pego de surpresa com a trama: não há indícios de que a moça seja surda por alguns bons minutos.


A história se desenvolve sem muitos propósitos, o tema já é recorrente entre películas do gênero. O que chama a atenção é a ação de uma deficiente auditiva garantir sua sobrevivência em meio ao terror levado pelo invasor além de lidar com a relação de vantagem-desvantagem entre as personagens. Há outro fator interessante que escancara o que já era óbvio: o filme é levado, em boa parte, silenciosamente. Não há diálogos, ou sequer a necessidade disso -- aliás, qualquer ruído pode ser fatal.

Como já fora explicitado, Hush possui ingredientes diferentes que dão outro toque à trama. Em contrapartida, sequer se preocupa em escapar de lugares-comuns ou dar razões aos personagens. Trata-se de um terror aprazível mas sem maiores profundidades.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane) (2016)

Ficha técnica
Gênero: Suspense
Duração: 1h43min
EUA

Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Josh Campbell e Matthew Stuecken
Elenco principal: Mary Elizabeth Winstead, John Goodman e John Gallagher Jr.

Sinopse: Após um acidente de carro, Michelle acorda em um abrigo, presa e machucada com mais outros dois homens que afirmam que fora desses aposentos, o mundo exterior foi afetado por algum tipo de ataque químico.

Rua Cloverfield, 10 é uma espécie de spin-off  de Cloverfield: Monstro de 2008 (Matt Reeves) e seu anúncio chegou como uma surpresa -- à época das filmagens, sequer os atores sabiam ao certo o nome do projeto. O longa conta com a "bênção" de J.J. Abrams e sua produtora Bad Robot. Não há uma ligação objetiva ou necessária com a película de 2008, Abrams apenas deu a entender que possivelmente haverá um próximo filme, e que se trata de uma espécie de "universo compartilhado".

Logo nos primeiros minutos, vê-se a protagonista, a jovem Michelle (vivida por Mary Elizabeth Winstead) em fuga, deixando pra trás seu relacionamento abusivo -- construído rapidamente em metáforas perspicazes logo ao início. Na estrada, sofre um acidente, tendo seu carro atingido e arremessado para fora do percurso. 

Em poucos minutos, tem-se a construção do suspense: Michelle acorda ferida e acorrentada em um aposento bastante similar a um quarto de manicômio. Eis que surge Howard (John Goodman) se anunciando como seu protetor: havia a encontrado em seu carro logo após o acidente e a levou para este aposento. Além disso, informa-a que estão confinados em um abrigo subterrâneo pois o mundo exterior estaria totalmente contaminado, mesmo o ar seria letal. À esta altura, não há mais nada concretamente estabelecido, e daí advém o suspense.

Michelle se encontra sem respostas: não há ninguém em quem confiar e mesmo os fatos podem ser dúbios. Fora de seu quarto, a garota descobre que além de Howard, ainda está confinada com outro homem: Emmett (John Gallagher Jr.).

A partir de então, o longa se dispõe a tratar do relacionamento receoso entre as três personagens. E neste aspecto, a cinegrafia fez um bom trabalho: um espaço limitado parece tão confortável em determinados momentos quanto claustrofóbico em outros. Outra perspectiva inevitável é o relacionamento paternalista (e por que não abusivo?) entre Michelle e Howard: em diversos pontos da trama, essa relação entre "pai e filha" é explorada a fim de caracterizar uma entre as várias correntes, físicas e imateriais, que prendem a protagonista.

O tom, ao final do longa, é totalmente divergente de todo o suspense perdurável e dá todas as respostas ao espectador. Entretanto, esta alteração brusca entre os atos pode ser, para alguns, ponto fraco, pois expõe excessiva e talvez desnecessariamente, suas razões.

Rua Cloverfield, 10, é uma grata surpresa ao fã de suspenses. Conta com boas atuações, sobretudo por conta de John Goodman, e ótimos truques cinematográficos. Entretanto, esconde demasiadamente uma ideia que é revelada tão inesperadamente de forma desproporcional. Ao fim, não lhe tira os bons méritos e faz por agradar bastante, crítica e público.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Tudo que Aprendemos Juntos (2015)

Ficha técnica
Gênero: Drama
Duração: 1h42min
Brasil

Direção: Sérgio Machado

Roteiro: Maria Adelaide Amaral, Marcelo Gomes, Sérgio Machado, (baseado na peça de Antônio Emírio de Moraes)
Elenco principal:  Lázaro RamosKaique de JesusElzio Vieira

Sinopse: é contada a história de Laerte, um músico talentoso que, após falhar nas audições da Orquestra de São Paulo, vai dar aulas para crianças numa comunidade carente.

Tudo que Aprendemos Juntos é um daqueles filmes que (infelizmente) passam damasiado rápido pelos cinemas brasileiros. Com a dobradinha dos baianos Sérgio Machado na direção e Lázaro Ramos atuando (ambos trabalharam juntos também em Cidade Baixa (2005) e Madame Satã (2002)), o longa retrata a história de Laerte (Ramos), um músico talentoso, nascido pobre na Bahia, que logo como criança, ganha visibilidade a partir de sua maestria com o violino

Toda sua premissa tocante, inevitavelmente estabelece uma empatia da parte do público para com os personagens logo de início. Nos primeiros minutos, vê-se o protagonista em um momento decisivo de sua vida: ele está de frente para os jurados da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), prestes a se apresentar na audição para uma vaga no grupo. Sua apreensão, entretanto, o faz falhar. O filme se desenvolve apresentando problemas financeiros do músico, que decide, para poder pagar suas contas, aceitar a vaga de professor numa escola em Heliópolis, periferia de São Paulo.

Neste momento, a película se desenrola com a abertura de diversos caminhos a serem explorados, sendo um deles, talvez o mais evidente: a arte como forma de transformação social. Talvez um dos pontos que chame atençã é o título da obra (lá fora, curiosamente traduzido como: Violin Teacher ou Professor de Violino). Entende-se que há uma relação de troca entre educador e educando que se desenvolve à medida que a convivência se desdobra.

A partir do segundo ato, no entanto, talvez, acontece uma das grandes problemáticas do filme: o choque cultural entre professor, perfeccionista, inserido noutra realidade social e os alunos da periferia, marginalizados e sem disciplina. Essa barreira é indicada, por exemplo quando Laerte, um homem negro, é apelidado por seus alunos de "Obama", uma referência sagaz à representação de poder que o Presidente dos Estados Unidos configura. Tal relação se estabelece e se arrasta por um período sem que haja um claro desenvolvimento, sobretudo por parte do educador, de indícios de compreensão e/ou empatia; quando o espectador se dá conta, a forma com a qual os personagens se relaciona já foi alterada.

Este aspecto é de uma grande importância, pois neste momento, poderia se afirmar toda a relevância que possui a didática educacional e as diferentes nuances que pode tomar o educador a partir de grupos específicos. Além disso, há todo um aspecto problematizável sobre a democratização cultural e democracia cultural. Por que música clássica? Este gênero um tanto elitizado e classicista é, de certa forma, imposto à uma cultura marginalizada sem uma resposta didática.

De fato, há um retrato estereotipado dos lados antagônicos da obra, e é muito nítido que busca um refúgio em dramas estadunidenses como Ao Mestre, Com Carinho (James Clavell, 1967). E, ainda que ao início, pudesse evocar um Whiplash (Damien Chazelle, 2014), a linearidade acaba encontrando seu lugar-comum em O Grande Desafio (Denzel Washington, 2007). 

A representação cotidiana da violência e da vulgaridade como situações-problema da realidade brasileira, sobretudo nas periferias, se apresenta de forma escancarada -- inclusive é a chave para o desfecho da narrativa. Realmente, Heliópolis é um local de violência, sobretudo em se tratando de confrontos com a polícia. O retrato das "administrações" da comunidade, na figura de um traficante, vivido pelo rapper Criolo, (um Don Corleone caricato) abre um espaço de discussão social sobre esse poder político indireto.

No entanto, Tudo que Aprendemos Juntos é um belo filme, certamente entra para a boa safra de filmes brasileiros produzidos nos últimos anos, mas não deixa de cometer certos deslizes, o que de fato, não lhe tira o mérito de tocar meios sociais destoantes.

sábado, 30 de abril de 2016

Ele Está de Volta (Er Ist Wieder Da) (2015)

Ficha técnica
Gênero: Comédia
Duração: 1h56min
Alemanha

Direção: David Wnendt
Roteiro: David Wnendt e Mizzi Meyer (baseado no romance de Timur Vermes)
Elenco principal: Oliver MasucciThomas M. KöpplMarc-Marvin Israel 

Sinopse: Adolf Hitler acorda em pleno século 21. A partir de então, inicia uma carreira de comediante.

À Karl Marx é atribuída a seguinte frase: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa". A partir dessa premissa, podemos analisar não somente Ele Está de Volta, mas o retorno do perigoso discurso conservador e ultra-nacionalista.

Adaptado do best-seller homônimo, o filme tem o argumento simples, porém  curioso, de que Hitler simplesmente acorda no local onde ficava seu bunker em Berlim, em pleno 2014, sem se lembrar como ou por quê. Oliver Masucci dá vida a um Hitler caricato em meio a uma crise econômica e política, 70 anos após o fim da Segunda Guerra.

O longa lembra, em muitos momentos, de características de direção de Edgar Wright (Shaun of the Dead, Scott Pilgrim) e ao mesmo tempo, da comicidade de um mockumentary à la Larry Charles (Borat, Brüno)Inclui muitas referências, sejam históricas ou da cultura pop, como o documentário O Triunfo da Verdade (1935) ou o drama A Queda: os Últiimos dias de Hitler (2004) de Oliver Hirschbiegel, assim como a inserção de novas mídias, como o YouTube e as redes sociais. As sátiras formadas pelo choque cultural do ditador com a atualidade, inclusive, são pontos altos da comicidade do filme.

É interessante traçar paralelos com o mundo atual e sobre toda a onda conservadora que o toma. A história relata sobre como discursos reacionários e oportunistas ganham força em meio a crises. A metáfora é nítida: não é Hitler quem está de volta, é o tradicionalismo. O longa esmiúça características concretas da Europa atual, seja por conta de uma crise econômica ou por conta da migração, sobretudo de muçulmanos; a xenofobia e o discurso de "bons valores" e anticorrupção são os mesmos. O que assusta é a semelhança com os dias atuais, como a figura de "um Hitler" é aceita, se encaixa, ganha voz e consegue propagar seu discurso odioso.

Ele Está de Volta faz o espectador rir de nervoso, e debocha, em diversos momentos, da passividade com a qual o cidadão médio parece aceitar tal absurdo e alerta sobre como o discurso de ódio se protege pelo subterfúgio vazio de ser "apenas uma piada". Em um dos momentos no filme, um cidadão que vestia uma jaqueta bordada com dizeres anti-nazistas é linchado por pessoas que vestiam a camiseta da seleção de futebol alemã(!).

Não por coincidência, também se tem o ditador encarado como um comediante, tratando de assuntos delicados com o convencimento impetuoso de um articulador, ganhando espaço e força através da própria imprensa. Imprensa esta que divide a culpa por fazer ecoar a voz que reproduz não somente a discriminação como ideais retrógrados.

O desfecho carrega o mesmo tom que o restante do filme, uma comicidade que apavora. No entanto, de alguma forma, vai de encontro à assertiva inicialmente proposta: neste caso, a história se repete pela ignorância de uma população alienada, pela ganância de uma imprensa ardilosa e pelo oportunismo de figuras políticas desleais. Ou melhor, uma verdadeira farsa, mesmo.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Boneco do Mal (The Boy) (2016)

Ficha técnica
Gênero: Terror/Suspense
Duração: 1h37min
EUA

Direção: William Brent Bell
Roteiro: Stacey Menear
Elenco principalLauren CohanRupert Evans e James Russell

Sinopse: Greta, uma jovem mulher norte-americana, busca fugir de seu passado conturbado, e acaba aceitando um emprego em uma pequena aldeia na Inglaterra como babá para o filho de oito anos de um casal rico, enquanto eles tiram um tempo de férias. Os surpreendentemente idosos Sr. e Sra. Heelshire possuem uma lista de regras estritas para ela seguir na hora de cuidar de seu filho, Brahms; e eles misteriosamente avisam Greta que não seguir as regras de forma precisa pode resultar em algo terrível.

Lançado no início de fevereiro, logo após a temporada de festivais, Boneco do Mal (The Boy) é um filme que cumpre a tabela. Não traz grandes novidades mas pega carona nos sucessos comerciais de Anabelle  e Invocação do Mal (ambos de 2014), películas com certas similaridades. Fez um ótimo anúncio comercial e se pagou no fim de semana de sua estréia nos EUA, entretanto, ir bem nas bilheterias não é sinônimo de qualidade.

Toda a premissa do filme é elaborada em seu primeiro ato. Greta Evans (Lauren Cohan) é contratada para tomar conta do filho de um excêntrico casal. O garoto, Brahms é, entretanto, um boneco de porcelana e Greta deve cumprir uma série de exigências para cuidar do brinquedo. Quando deixa de cumpri-las, acontecimentos bizarros começam a acontecer na casa.

Para o público, seu início pode parecer lento e desagradável. As atuações do elenco de apoio talvez deixem a desejar ou, talvez, seja a dificuldade do filme em incorporar seu próprio argumento. Trata-se de um terror popularizado: repleto de jumpscares e closes que indicam tensão, muitos dos clichês contemporâneos de filmes do gênero enfraquecem a obra.

A ambientação, ainda que lugar-comum, talvez seja um ponto positivo, pois inclui o espectador em uma certa atmosfera psicológica que o faz especular: loucura? No entanto, o clima se quebra logo no início do terceiro ato, e é então que se tem uma positiva surpresa. A reviravolta chega a aturdir, ainda que não convença em absoluto, é positiva por "inovar".

Não há que se esmiuçar um longa que se prende a um plot-twist e outros estereótipos do gênero. Boneco do Mal poderá até agradar alguns -- ora, a obra, não necessariamente não possui o compromisso de revolucionar os filmes de terror -- mas talvez, como consequência, caia no limbo dos filmes de terror.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Boa Noite, Mamãe (Good Night Mommy) (2014)

Ficha técnica
Gênero: Drama/Terror/Suspense
Duração: 1h39min
Áustria

Direção e roteiro: Veronika Franz, Severin Fiala
Elenco principal: Lukas Schwarz, Elias Schwarz e Susanne Wuest

Sinopse: Dois irmãos gêmeos se mudam para uma nova casa com sua mãe após ela ser submetida a uma cirurgia de mudança de face, mas por baixo de suas ataduras, está alguém que os irmãos não reconhecem.

Boa Noite Mamãe é um terror austríaco lançado no circuito em 2014, mas que só chegou aos cinemas brasileiros no início de 2016. O longa traz para o gênero o tema maternidade de volta às cenas, ainda que o trate com outra perspectiva: temos a história dos gêmeos Lukas e Elias (interpretado por seus homônimos Lukas Schwarz e Elias Schwarz) e sua mãe (Susanne Wuest), que fora submetida a uma cirurgia de alteração facial e, a quem só somos devidamente apresentados após o ato inicial, devido ao fato de a personagem ter seu rosto coberto por curativos. A premissa é, inicialmente simples porém gera uma ótima história: os garotos duvidam de que a pessoa por baixo das ataduras seja, de fato, sua mãe.

Entretanto, o filme não nos despeja a trama de uma só vez e vamos, aos poucos, desenrolando os nós que permeiam a história. A relação estabelecida pelo núcleo familiar é totalmente instável e entrega uma montagem cheia de reviravoltas, e, neste aspecto, marca um ponto positivo: lida com a (des)confiança entre entes de um grupo, demonstrando como essa familiaridade pode ser frágil quando colocada na tênue linha entre amor fraternal e sentimento de aprisionamento.

A construção do roteiro é bastante cuidadosa e faz bem por não expor demais antes do momento certo, por isso, trata-se de um filme cheio de metáforas e sutilezas. A cinematografia, por si, apresenta uma bela e aterrorizante ambientação, e deu ao filme o prêmio de melhor direção de fotografia do Cinema Europeu de 2015. Espaços amplos, closes certeiros e a contribuição do bom uso do silêncio dão à película uma boa carga de suspense. E, se algum momento parecer demasiado lento, não o faz por mal.

Boa Noite, Mamãe certamente não é apenas um terror que busca atrair seus espectadores pelos sustos e pelo sangue. Trata-se de um filme que explora o horror real; requer uma "atenção a mais", e, mesmo que não possa evitar um ou outro clichê, entrega um resultado bastante positivo.