Ficha técnica
Gênero: Drama
Duração: 1h42min
Brasil
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Maria Adelaide Amaral, Marcelo Gomes, Sérgio Machado, (baseado na peça de Antônio Emírio de Moraes)
Elenco principal: Lázaro Ramos, Kaique de Jesus, Elzio Vieira
Sinopse: é contada a história de Laerte, um músico talentoso que, após falhar nas audições da Orquestra de São Paulo, vai dar aulas para crianças numa comunidade carente.
Tudo que Aprendemos Juntos é um daqueles filmes que (infelizmente) passam damasiado rápido pelos cinemas brasileiros. Com a dobradinha dos baianos Sérgio Machado na direção e Lázaro Ramos atuando (ambos trabalharam juntos também em Cidade Baixa (2005) e Madame Satã (2002)), o longa retrata a história de Laerte (Ramos), um músico talentoso, nascido pobre na Bahia, que logo como criança, ganha visibilidade a partir de sua maestria com o violino.
Toda sua premissa tocante, inevitavelmente estabelece uma empatia da parte do público para com os personagens logo de início. Nos primeiros minutos, vê-se o protagonista em um momento decisivo de sua vida: ele está de frente para os jurados da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), prestes a se apresentar na audição para uma vaga no grupo. Sua apreensão, entretanto, o faz falhar. O filme se desenvolve apresentando problemas financeiros do músico, que decide, para poder pagar suas contas, aceitar a vaga de professor numa escola em Heliópolis, periferia de São Paulo.
Neste momento, a película se desenrola com a abertura de diversos caminhos a serem explorados, sendo um deles, talvez o mais evidente: a arte como forma de transformação social. Talvez um dos pontos que chame atençã é o título da obra (lá fora, curiosamente traduzido como: Violin Teacher ou Professor de Violino). Entende-se que há uma relação de troca entre educador e educando que se desenvolve à medida que a convivência se desdobra.
A partir do segundo ato, no entanto, talvez, acontece uma das grandes problemáticas do filme: o choque cultural entre professor, perfeccionista, inserido noutra realidade social e os alunos da periferia, marginalizados e sem disciplina. Essa barreira é indicada, por exemplo quando Laerte, um homem negro, é apelidado por seus alunos de "Obama", uma referência sagaz à representação de poder que o Presidente dos Estados Unidos configura. Tal relação se estabelece e se arrasta por um período sem que haja um claro desenvolvimento, sobretudo por parte do educador, de indícios de compreensão e/ou empatia; quando o espectador se dá conta, a forma com a qual os personagens se relaciona já foi alterada.
Este aspecto é de uma grande importância, pois neste momento, poderia se afirmar toda a relevância que possui a didática educacional e as diferentes nuances que pode tomar o educador a partir de grupos específicos. Além disso, há todo um aspecto problematizável sobre a democratização cultural e democracia cultural. Por que música clássica? Este gênero um tanto elitizado e classicista é, de certa forma, imposto à uma cultura marginalizada sem uma resposta didática.
De fato, há um retrato estereotipado dos lados antagônicos da obra, e é muito nítido que busca um refúgio em dramas estadunidenses como Ao Mestre, Com Carinho (James Clavell, 1967). E, ainda que ao início, pudesse evocar um Whiplash (Damien Chazelle, 2014), a linearidade acaba encontrando seu lugar-comum em O Grande Desafio (Denzel Washington, 2007).
A representação cotidiana da violência e da vulgaridade como situações-problema da realidade brasileira, sobretudo nas periferias, se apresenta de forma escancarada -- inclusive é a chave para o desfecho da narrativa. Realmente, Heliópolis é um local de violência, sobretudo em se tratando de confrontos com a polícia. O retrato das "administrações" da comunidade, na figura de um traficante, vivido pelo rapper Criolo, (um Don Corleone caricato) abre um espaço de discussão social sobre esse poder político indireto.
No entanto, Tudo que Aprendemos Juntos é um belo filme, certamente entra para a boa safra de filmes brasileiros produzidos nos últimos anos, mas não deixa de cometer certos deslizes, o que de fato, não lhe tira o mérito de tocar meios sociais destoantes.